quinta-feira, 17 de maio de 2007

Discussões familiares

São frequentes as discussões familiares, em que o poder instituído dos pais se sobrepõe à vontade dos infantes ou adolescentes. Como poderia uma típica discussão familiar beneficiar com a introdução de alguma atitude filosófica?

Sem Filosofia

Filho: Posso ir à festa do João, logo à noite?
Pai: Não. Amanhã é dia de escola.
F: Mas os outros pais deixam os filhos ir!
P: Não vais, ponto final!
F: Isso é injusto!

Com Filosofia

Filho: Posso ir à festa do João, logo à noite?
Pai: Não, amanhã é dia de escola.
F: Mas os outros pais deixam os filhos ir!

P: Existem duas assumpções nas tuas afirmações. A primeira refere-se ao facto de todos os outros pais deixarem ir os filhos à festa, afirmação que, à falta de evidência plausível, é perfeitamente dubitável. Assumes também que visto me encontrar em minoria, a minha posição é incorrecta. No entanto, existem muitos exemplos de pessoas que expressam opiniões correctas, estando em minoria. Certamente não afirmas que uma afirmação é verdadeira pelo simples facto de ser defendida por uma maioria.

F: Certamente que não. Mas porque é que assumes que ir à festa seria uma decisão incorrecta?

P: Porque amanhã tens escola.

F: Assumes que ao deitar-me tarde, o meu rendimento escolar é afectado. Nego que tal seja verdade, mas assumiremos a premissa para bem da discussão. Existe, no entanto, outra assumpção: assumes que o facto de eu me encontrar um pouco cansada no dia seguinte não é compensado pelas vantagens que podem ser retiradas desta saída nocturna: nomeadamente, a melhoria da minha auto-estima, desenvolvimento das minhas capacidades sociais e aquisição de experiência de vida. Disputo a importância absoluta que colocas na educação e conhecimento, afirmando que essas são apenas duas virtudes entre muitas outras, e são igualmente importantes para o meu desenvolvimento.

P: Tal poderá ser verdade, mas não mostra que as virtudes da auto-estima e capacidades sociais deveriam, neste caso específico, sobrepôr-se à educação. Se, como afirmas, a educação e o conhecimento são apenas virtudes entre tantas outras, então a escolha entre elas é apenas uma questão de julgamento. Certamente concordas que eu sou mais velho e mais sábio que tu, e logo, me encontro em melhor posição para proceder a tal julgamento. Concluo, portanto, que tenho o direito - e como teu pai, o dever - de utilizar esse julgamento no melhor dos teus interesses, que neste caso é não te deixar ir à festa.

F: Mas porquê?

P: Não vais, ponto final

F: Isso é injusto!

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