Até os factos são anti-semitas
Deixo aos interessados um argumentário que despeje, com o devido asseio, o lixo catequizado pelos lidadores da blogosfera. Aparentam os princípios mais coerentes, aliados aos factos por demais demonstrados, que qualquer apreciação da administração israelita, das suas políticas concretas, assim como a negação dos princípios e propósitos que sustentam a ideologia sionista, cai no famigerado rótulo: o anti-semitismo.
O anti-semitismo e a conotação racial de uma religião
A palavra não é nova, existe desde 1873, é da autoria de Wilhelm Marr e serviu de eufemismo ao termo Judenhass (ódio aos judeus). O termo é infeliz, e até eu já me servi dessa infelicidade. Não percebem as pessoas que o utilizam, que este serve para descrever aquilo que os precursores do nazismo julgavam existir, mas não existe, que é uma etnia que se transmite religiosamente. Nem o judeu pode ser tipificado como o semita de cabelo preto e nariz adunco, nem mesmo os hebreus preenchem todo o campo lexical, o qual abrange também os árabes e outros de língua camito-semítica. O ódio aos judeus não é diferente do ódio cristãos, ou do ódio aos muçulmanos, tão difundido pelos mesmos lidadores e aligeirado amiúde pelos restantes correligionários.
Por uma questão de princípio ninguém deve estar imune à crítica, por maiores que sejam os constrangimentos impostos por quem o quer impedir.
O mito de que todos os judeus se revêem na ideologia sionista e no Estado de Israel
O sionismo e o judaísmo não só são coisas bem distintas, como chegam a ser antagónicas. O sionismo é uma ideologia nacionalista que materializa a religião num pedaço de terra, num exército. Lendo o Talmud (Tractate Kesuboth p.111) não só ficamos a saber que a diáspora judaica é de vontade divina, assim como a violação dessa proibição, até à chegada do Messias, acarretaria inúmeros perigos para os judeus. Tal violação só demonstra a profunda descrença do movimento sionista na religião que dizem querer defender, assim como nos castigos divinos.
A ofensiva ideológica dos sionistas levou muitos judeus a criarem organizações para espraiar algum conhecimento num areal de mentiras e clichés.
jews against zionism
jews not zionists
naturei karta
Defender um Estado para os judeus VS defender um Estado judaico
Defender um Estado para os judeus é diferente de defender um Estado judaico.
Defender um Estado onde os judeus sejam cidadãos como outros quaisquer é defender as liberdades individuais, a laicidade e a democracia. Os Estados Unidos representam aquilo que eu descrevi e foram de facto o abrigo para a grande maioria dos judeus, ainda que contrariados por organizações sionistas como a American Jewish Congress, chefiada pelo rabino Stephen Wise, que em 1938 se decide opor à alteração da lei de imigração que permitiria a fuga dos judeus para a America: "It may interest you to know that some weeks ago the representatives of all the leading Jewish organizations met in conference (...) It was decided that no Jewish organization would, at this time, sponsor a bill which would in any way alter the immigration laws".
Aquilo que Theodor Herzl patrocina no seu Der judenstaat (O Estado judeu) não é a luta por um Estado onde deixem de viver como cidadãos de segunda. Defender um Estado Judaico é a mesma coisa que defender um Estado Católico ou um Estado Islâmico. É rebaixar a humanidade afirmando que não somos suficientemente inteligentes para conviver uns com os outros independentemente das crenças de cada um.
Segregar para precaver - Theodor Herzl ensina aos mais incautos como salvar judeus
"In Paris, as I have said, I achieved a freer attitude toward anti-Semitism, which I now began to understand historically and to pardon. Above all, I recognized the emptiness and futility of trying to “combat” anti-Semitism." June l895, Zionist Diary, Marvin Lowenthal (ed.), The Diaries of Theodor Herzl, p.6.
Na continuação do que atrás referi, deixo esta citação que por si desnuda os alicerçes do sionismo. O Estado judaico não pretende resolver o problema da discriminação religiosa, o qual até entende e aceita numa perspectiva histórica e cultural. O Estado judaico pretende fugir ao problema para não ter que o confrontar, e ironicamente, acaba por fazer aos palestinianos, aquilo de que foi vítima.
"Não se pode racionalmente ser contra a constituição de um estado que já está constituído"
Assim como quem se afirma contra qualquer forma de nacionalismo segregacionista, o meu propósito anti-sionista é a laicização, para acabar com o apartheid religioso imposto pelo Estado à sociedade civil.
O propósito não é, como devem imaginar, correr com os judeus à bomba nuclear. Compreendo o jeito que dá à argumentação dos lidadores a imputação destas intenções aos que não pensam como eles.
Outro cenário que poderá surgir na discussão é a negação da realidade. Ser-vos-á comunicado que Israel não é um Estado confessional, mas de substrato bíblico. Para estes casos aconselha-se a leitura deste excelente texto no Diário Ateísta.
Com que legitimidade se defende lá fora aquilo que não se defende em casa
É preciso não perder o sentido quando saltar este coelho da cartola. É verdade que a Europa está carregada de Estados que nomeiam uma confissão oficial: Inglaterra, Escócia, Noruega, Grécia, Finlândia, Islândia, Malta, Mónaco, Vaticano, Liechtenstein, na maioria dos cantões suíços, Dinamarca e Chipre. Mas os erros dos outros não justificam os nossos. Ainda que a comparação seja completamente desproporcionada, a triste realidade de uma Europa confessional apenas nos diz que há muito trabalho a fazer, não desculpabiliza os outros.
"When people criticize Zionists, they mean Jews. You're talking anti-Semitism" Martin Luther King
Quando já nada mais for expectável surgirá esta citação, dita e não escrita, supostamente em Harvard por Martin Luther King. Em relação a isto, diga-se apenas que ninguém é perfeito, e que não há reverendo nem autoridade divina que escape aos factos que acima expus.
Sem comentários:
Enviar um comentário