quarta-feira, 24 de outubro de 2007

A religião e o sucesso escolar

Não é complicado explicar porque é que as escolas privadas têm melhores resultados que as públicas, o estudo apoiado por tutores, a classe social, a selecção dos alunos admitidos e afins. O que já não é consensual é querer colar a religião a este facto, dizem que são "privadas e católicas", como se o segundo adjectivo funcionasse sem o primeiro, como se por si só acrescentasse o que quer que seja.
Decidi pegar em escolas laicas e religiosas, retirei os 620 e 698 melhores exames respectivamente, fiz uma média entre as duas. Escolhi o número de exames onde o diferencial era menor e arredondei os valores às centésimas.


Escolas religiosas

O Colégio Mira Rio em 38 exames consegue uma média de 150,61.
O Colégio Cedros em 32 exames consegue uma média de 139,34.
O Colégio São João de Brito em 279 exames consegue uma média de 133,32.
A Academia de Música de Santa Cecília em 69 exames consegue uma média de 133,03.
A Escola Técnica e Liceal Salesiana Santo António em 280 exames consegue uma média de 132,86.

Consolidando as contas, em 698 exames as escolas religiosas conseguem uma média de 134,32.

Escolas laicas

A Escola Secundária Infanta D. Maria em 505 exames consegue uma média de 136,82.
O Colégio Valsassina em 115 exames consegue uma média de 135,98.

Consolidando as contas, em 620 exames, as escolas laicas conseguem uma média de 136,66.

É claro que a isto se tem que somar o facto da Escola Secundária Infanta D. Maria não ser privada, e por isso não fazer selecção de alunos nem representar um estrato social. Para ficar uma coisa bem feita teria que usar apenas e só escolas privadas que fossem laicas, comparando depois as que se situam nos mesmos meios e que pedem semelhantes propinas, fazendo um despiste correcto das restantes variáveis e mexer apenas com o factor religião. Não tendo esses dados, e dispondo apenas do Colégio Valsassina para argumentar, tenho que me ficar por aqui. No entanto tenho a convicção que se as privadas fossem laicas, o resultado seria idêntico.

P.S. "A lista de escolas apresentada pelo CM baseia-se nas notas das provas realizadas pelos alunos internos de todas as escolas públicas e privadas às seguintes disciplinas: Biologia, Física, História, Inglês, Matemática, Português B e Química."

P.P.S Os dados oficiais estão aqui.

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segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A desilusão da tradução












Pus-me no lugar de Lígia Rodrigues e Maria João Camilo, responsáveis pela tradução, na tentativa de transpor para português o título, ao mesmo tempo que se lhe dá a atractividade imediata de que necessitam as editoras para prosperar. Entre mentira, ilusão, delusão e logro, não me ocorreu desilusão. A julgar o livro pela capa, aconselho a versão original.

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Doc Lisboa 2007

Passei hoje por para ver o Ghosts of Cité Soleil.
O documentário apresenta-nos a microcósmica Cité Soleil guiada por dois mercenários (Chimères - os tais "ghosts" a que se refere o título) e onde se pode comprovar a cores o retrato da Cruz Vermelha: "Desemprego endémico, iliteracia, inexistência de serviços públicos e de saneamento básico, crime descontrolado e violência armada".
Constrange o facto da miséria nos estar a ser relatada pelas mesmas pessoas que para ela contribuem. Os mercenários que a soldo do governo de Jean-Bertrand Aristide disparam sobre qualquer oposição, e às vezes entre eles por questões de chefia bairrista, são descritos pelo realizador como sendo o sintoma e não a doença que por ali se espalha. Não é sequer negado o espaço no documentário para a exposição dos seus dilemas existenciais sobre quem matar a seguir para ganhar o respeito (entenda-se medo) dos habitantes do bairro
Acresce ainda o facto da imagem escolhida para publicitar o filme ser um voyeurismo do cameraman num momento infeliz entre um dos bandidos e Lele, uma assistente social francesa.
Fora as anteriores observações, é um bom documentário. A câmera vai a todo o lado e chega a presenciar um tiroteio.

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domingo, 14 de outubro de 2007

A Queda da Cultura Ocidental?

"Óptimo homem, tu que és cidadão de Atenas, da cidade maior e mais famosa pelo saber e pelo poder, não te envergonhas de fazer caso das riquezas, para guardares quanto mais puderes e da glória e das honrarias, e, depois, não fazer caso e nada te importares da sabedoria, da verdade e da alma, para tê-la cada vez melhor?"

Platão,
Apologia de Sócrates

Quando Sócrates colocou esta questão perante a Assembleia dos 501, que mais tarde iria proferir a sua sentença de morte, o filósofo ateniense estava, provavelmente, consciente da natureza intemporal da sua questão. Sabia que esta não se coadunaria unicamente à sua era, e que iria sobreviver ao teste do tempo, as suas raízes bem assentes na natureza humana, e por esse meio, as motivações que provocam a questão estariam presentes na sociedade expressa pelo meio que o ser humano, baseado na sua natureza, constrói. Em todas as eras da História da humanidade, as preocupaçoes básicas pautaram sempre a mente humana. E tal é apenas natural, uma vez que tudo o resto depende da satisfação dos impulsos básicos definidos pela nossa programação biológica. Só então pode a razão e a arte florescer, e providenciar frutos duradouros.

Mas a "Civilização Ocidental", cujo substrato e estrutura cultural lhe permitiu erguer-se, orgulhosa, sólida e fundada, está a cair. E a queda, apesar de vertiginosa, é pouco notada. Afinal, aqueles que a poderiam notar são os que se afundam com ela, substituindo a virtude pelo hedonismo puro, recusando assim a busca pelo conhecimento e recostando-se em plena alienação, hipnotizados pela vacuidade do fast-food cultural. Em apenas uma ou duas gerações, os nomes de Platão, Kant, Galileu, Turing ou Heisenberg (apenas para mencionar alguns) terão sido esquecidos, meras menções no rodapé dos manuais de História do ensino cada vez mais pobre (se História ainda estiver no currículo, por essa altura! Filosofia, decerto, já não irá figurar no currículo académico) e acrítico, que é, afinal, tudo aquilo que um modelo civilizacional moribundo tem a oferecer aos seus filhos.

A dificuldade em resgatar uma cultura moribunda acentua-se sobretudo quando pensadores e artistas, afinal, os produtores e zeladores da cultura ocidental, se fecham em círculos e elites, que recusam interagir abertamente com um público que, afinal, não quer saber. Aqueles que podem travar, e eventualmente, proceder a reparos estruturais na nossa civilização não possuem a motivação para levar a cabo uma tarefa tão ingrata. A produção de cultura, dita viável, está na mão de glutões cujo único interesse é apenas o lucro, e não a evolução positiva da cultura.

Todas as culturas evoluem. Todas as culturas possuem ciclos de vida, nos quais nascem, vivem e morrem. Será a nova cultura pop do Oeste o cancro que consome o corpo cultural?

Tudo isto sem Europocentrismos, ou etnocentrismos de qualquer espécie. Acredito que as culturas não devem ser estanques. Devem interagir e partilhar, assegurando assim a sua evolução e sobrevivência, mantendo os conceitos nucleares que a definem. A globalização capitalista procura impôr valores culturais, ao invés da partilha saudável e selectiva. Efectua-se assim a metástase de um cancro que já se espalhou por todo o globo.

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quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Durão Barroso de volta ao youtube (2)

"Hoje também fomos contactados pelo staff do Gabinete de Barroso que, pelos vistos, quer publicar o vídeo no seu próprio de site - será por ter achado graça, como foi dito ao Jean Quatremer, ou tratar-se-á de uma airosa manobra de desmontagem do movimento de disseminação “por vias travessas” que se gerou? Perguntam-nos qual a origem do vídeo e se não haverá problemas de copyright… Alguém sabe?"

Pelos vistos não fui só eu que recebi a dita mensagem na caixa do youtube.
Parece-me que qualquer tentativa para suster a natural disseminação do vídeo seria frustrada e perigosa. A melhor maneira de lidar com as tolices do passado é aceitá-las e rir delas. Melhor ainda seria publicá-las no Portal da Comissão Europeia, desmontando a ideia de que se pressiona a retirada do vídeo ao mesmo tempo que se dá uma lição de carácter a todos os que acusaram Durão Barroso disso mesmo.

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domingo, 7 de outubro de 2007

Durão Barroso de volta ao youtube

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sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Até os factos são anti-semitas

Deixo aos interessados um argumentário que despeje, com o devido asseio, o lixo catequizado pelos lidadores da blogosfera. Aparentam os princípios mais coerentes, aliados aos factos por demais demonstrados, que qualquer apreciação da administração israelita, das suas políticas concretas, assim como a negação dos princípios e propósitos que sustentam a ideologia sionista, cai no famigerado rótulo: o anti-semitismo.

O anti-semitismo e a conotação racial de uma religião

A palavra não é nova, existe desde 1873, é da autoria de Wilhelm Marr e serviu de eufemismo ao termo Judenhass (ódio aos judeus). O termo é infeliz, e até eu já me servi dessa infelicidade. Não percebem as pessoas que o utilizam, que este serve para descrever aquilo que os precursores do nazismo julgavam existir, mas não existe, que é uma etnia que se transmite religiosamente. Nem o judeu pode ser tipificado como o semita de cabelo preto e nariz adunco, nem mesmo os hebreus preenchem todo o campo lexical, o qual abrange também os árabes e outros de língua camito-semítica. O ódio aos judeus não é diferente do ódio cristãos, ou do ódio aos muçulmanos, tão difundido pelos mesmos lidadores e aligeirado amiúde pelos restantes correligionários.
Por uma questão de princípio ninguém deve estar imune à crítica, por maiores que sejam os constrangimentos impostos por quem o quer impedir.

O mito de que todos os judeus se revêem na ideologia sionista e no Estado de Israel

O sionismo e o judaísmo não só são coisas bem distintas, como chegam a ser antagónicas. O sionismo é uma ideologia nacionalista que materializa a religião num pedaço de terra, num exército. Lendo o Talmud (Tractate Kesuboth p.111) não só ficamos a saber que a diáspora judaica é de vontade divina, assim como a violação dessa proibição, até à chegada do Messias, acarretaria inúmeros perigos para os judeus. Tal violação só demonstra a profunda descrença do movimento sionista na religião que dizem querer defender, assim como nos castigos divinos.
A ofensiva ideológica dos sionistas levou muitos judeus a criarem organizações para espraiar algum conhecimento num areal de mentiras e clichés.

jews against zionism

jews not zionists

naturei karta

Defender um Estado para os judeus VS defender um Estado judaico

Defender um Estado para os judeus é diferente de defender um Estado judaico.
Defender um Estado onde os judeus sejam cidadãos como outros quaisquer é defender as liberdades individuais, a laicidade e a democracia. Os Estados Unidos representam aquilo que eu descrevi e foram de facto o abrigo para a grande maioria dos judeus, ainda que contrariados por organizações sionistas como a American Jewish Congress, chefiada pelo rabino Stephen Wise, que em 1938 se decide opor à alteração da lei de imigração que permitiria a fuga dos judeus para a America: "It may interest you to know that some weeks ago the representatives of all the leading Jewish organizations met in conference (...) It was decided that no Jewish organization would, at this time, sponsor a bill which would in any way alter the immigration laws".
Aquilo que Theodor Herzl patrocina no seu Der judenstaat (O Estado judeu) não é a luta por um Estado onde deixem de viver como cidadãos de segunda. Defender um Estado Judaico é a mesma coisa que defender um Estado Católico ou um Estado Islâmico. É rebaixar a humanidade afirmando que não somos suficientemente inteligentes para conviver uns com os outros independentemente das crenças de cada um.

Segregar para precaver - Theodor Herzl ensina aos mais incautos como salvar judeus

"In Paris, as I have said, I achieved a freer attitude toward anti-Semitism, which I now began to understand historically and to pardon. Above all, I recognized the emptiness and futility of trying to “combat” anti-Semitism." June l895, Zionist Diary, Marvin Lowenthal (ed.), The Diaries of Theodor Herzl, p.6.

Na continuação do que atrás referi, deixo esta citação que por si desnuda os alicerçes do sionismo. O Estado judaico não pretende resolver o problema da discriminação religiosa, o qual até entende e aceita numa perspectiva histórica e cultural. O Estado judaico pretende fugir ao problema para não ter que o confrontar, e ironicamente, acaba por fazer aos palestinianos, aquilo de que foi vítima.

"Não se pode racionalmente ser contra a constituição de um estado que já está constituído"

Assim como quem se afirma contra qualquer forma de nacionalismo segregacionista, o meu propósito anti-sionista é a laicização, para acabar com o apartheid religioso imposto pelo Estado à sociedade civil.
O propósito não é, como devem imaginar, correr com os judeus à bomba nuclear. Compreendo o jeito que dá à argumentação dos lidadores a imputação destas intenções aos que não pensam como eles.
Outro cenário que poderá surgir na discussão é a negação da realidade. Ser-vos-á comunicado que Israel não é um Estado confessional, mas de substrato bíblico. Para estes casos aconselha-se a leitura deste excelente texto no Diário Ateísta.

Com que legitimidade se defende lá fora aquilo que não se defende em casa

É preciso não perder o sentido quando saltar este coelho da cartola. É verdade que a Europa está carregada de Estados que nomeiam uma confissão oficial: Inglaterra, Escócia, Noruega, Grécia, Finlândia, Islândia, Malta, Mónaco, Vaticano, Liechtenstein, na maioria dos cantões suíços, Dinamarca e Chipre. Mas os erros dos outros não justificam os nossos. Ainda que a comparação seja completamente desproporcionada, a triste realidade de uma Europa confessional apenas nos diz que há muito trabalho a fazer, não desculpabiliza os outros.

"When people criticize Zionists, they mean Jews. You're talking anti-Semitism" Martin Luther King

Quando já nada mais for expectável surgirá esta citação, dita e não escrita, supostamente em Harvard por Martin Luther King. Em relação a isto, diga-se apenas que ninguém é perfeito, e que não há reverendo nem autoridade divina que escape aos factos que acima expus.

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