quinta-feira, 31 de maio de 2007

A semelhança dos opostos

Na Polónia censuram um excerto da série "Little Britain" pelo seu conteúdo homossexual. Nos Estados Unidos metem uma rapariga de 16 anos em prisão preventiva por distribuir flyers na escola contra a homossexualidade. Flyers esses em tudo semelhantes aos outdoors da JS por terem sido pagos indirectamente com dinheiro dos contribuintes (nem que tenha sido um cêntimo do abono de família), e com a diferença de que mostravam dois homens aos beijos em vez de duas mulheres (quando se pretende denegrir a homossexualidade usam-se homens, as mulheres servem para a promover).
Produtos duma engenharia chamada "discriminação positiva", como os crimes de ódio que pretendem proteger legalmente certos grupos que se dizem discriminados, acabando no fundo por discriminar estes em detrimento de todos os outros que diariamente sobrevivem sem apoio legal. Isso são remendos que não duram numa sociedade de conflito, e que acabam por criar os mesmos problemas que dizem querer combater.

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terça-feira, 29 de maio de 2007

Industria Farmacêutica: Amiga do Cancro?


It sounds almost too good to be true: a cheap and simple drug that kills almost all cancers by switching off their “immortality”. The drug, dichloroacetate (DCA), has already been used for years to treat rare metabolic disorders and so is known to be relatively safe.

Tal como a New Scientist afirma, esta é uma droga milagrosa. Simples. Eficaz. O seu custo de produção é ridiculamente baixo. É uma substância que é utilizada actualmente no combate a uma condição metabólica aguda, a acidose láctica. Sabemos, portanto, que é segura para administração em seres humanos.

É no entanto necessário conduzir testes em seres humanos que padeçam de condição oncológica para comprovar a sua eficácia no combate ás células cancerigenas. Estes testes, em princípio, deveriam ser financiados pela indústria farmacêutica, cujo interesse na produção e venda de tal droga é elevado.

O problema reside no facto de o DCA ser uma substância cuja produção é um processo de baixo custo. A indústria farmacêutica não está interessada em comercializar uma substância de baixo custo, e cujo valor não pode inflacionar. Seria uma solução largamente disponível, ubíqua. E não é isto que interessa a uma indústria farmacêutica sedenta de lucro.

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segunda-feira, 28 de maio de 2007

Descartes e Mário Lino


Margem Sul do Tejo. Almada e restantes centros urbanos são apenas miragens.
Já afirmava Descartes que os sentidos são pobres fontes de informação fidedigna, uma vez que, por vezes, estes enganam-nos. Tanto quanto sabemos, estes podem enganar-nos em qualquer instância.



E quanto à mente, será que a podemos classificar enquanto um instrumento infalível para apreender a realidade, tal como esta existe (ai, este realismo!)? Tanto quanto sabemos, é possível que estejamos a passar por uma crise psicótica colectiva, e que apenas Mário Lino, dotado de capacidades epistemológicas imaculadas, consiga apreender a verdadeira natureza da Margem Sul do Tejo.

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Embustes na ciência

You have to wonder at some people. I have been wondering at Jon Sudbo, a Norwegian scientist who published a paper in The Lancet in 2005 showing that a certain class of painkillers cut the risk of oral cancer. Sudbo, it turned out, made the whole lot up. And he was astoundingly dim in the way he went about inventing his 908 patients: he gave 250 the same date of birth.

Um dos princípios do método científico é a replicação. Uma experiência deve ser passível de ser replicada, dado que as condições sejam as mesmas.

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domingo, 27 de maio de 2007

Violência religiosamente correcta



Portanto, se o marido desejar espancar a mulher, é livre de o fazer, a partir do momento em que não lhe atinja a face, não a faça sangrar, não lhe parta osso algum. O teólogo islâmico afirma também que a mulher não é "mercadoria" do homem, que este não pode fazer o que bem entender. Mas concede que é permissível exercer violência sobre a mulher, desde que seja em conformidade com os pontos acima descritos. É um direito que lhe assiste.

Será que a violência requintada, que não deixe marcas mas no entanto cause um elevado nível de sofrimento é permissível por Alá?

É a violência religiosamente correcta dos teólogos islâmicos. Espanque, mas espanque com cuidado. Com uma flor, se possível.

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quarta-feira, 23 de maio de 2007

Um electrão a mais


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terça-feira, 22 de maio de 2007

Responsabilidades humanistas

Seguindo com o debate iniciado no Esquerda Republicana, nomeadamente neste artigo da autoria de Ricardo Alves, e respondendo a vários pontos formulados no artigo "O humanismo aplica-se aos bois?", segue o contrargumento.

Racionalidade e dever


O filósofo e matemático francês René Descartes, considerado o pai da filosofia moderna, empreendeu várias experiências em busca da verdadeira fonte de humanidade. Na sua demanda pelo Eu, Descartes traçou uma diferença fundamental entre o ser humano e o restante reino animal: a natureza do primeiro consistia, essencialmente, numa substância imaterial: a res cogitans. O segundo, apesar de parecer agir conscientemente, era na verdade um simples autómato, sem qualquer tipo de experiência mental.

A visão de Descartes é perfeitamente coerente com o contexto histórico no qual se situa: uma época de revolução científica, em que o aristotelianismo foi sendo substituído por uma visão mecanicista da natureza. À luz deste novo paradigma, e aplicando o princípio da parcimónia (a Lâmina de Occam), a visão do animal enquanto autómato tornou-se a explicação mais simples e consistente, tornando-se largamente aceite na comunidade científica da época.

Sabemos hoje em dia que a visão cartesiana da mente animal se encontrava errada, com base em fortes indícios provenientes de induções fortes. Certamente que o Ricardo Alves concorda comigo neste ponto, e rejeita a visão cartesiana do animal, que tem conhecido um certo revivalismo em certos círculos filosóficos. Que o animal sente dor, sofre e tenta melhorar a sua condição face ao meio em que se integra, é um ponto de concordância.

Sabemos também que o sofrimento é inerentemente mau. Sabemo-lo através da nossa experiência, subjectiva, e induzimos que esta experiência é igualmente desconcertante para outros seres sencientes. Uma das bases da moralidade é evitar o sofrimento a outros seres humanos, dado que estes o sentem e o que é proveniente deste estado mental raramente é positivo. Da mesma forma, um animal senciente é um ser capaz de sentir dor.

A nossa racionalidade permite-nos operar conceitos em abstracção, e daí, interpretar o mundo à luz de uma elevada complexidade. Da sobrevivência básica à filosofia e à física quântica, a nossa visão do mundo transformou-se. Sentimo-nos responsáveis não só pelas nossas acções directas, mas também pelo meio envolvente. Se é este o paternalismo que o Ricardo afirma, então aceito-o: o cérebro humano é o dispositivo de engenharia biológica mais complexo do reino animal, e provavelmente o bocado de matéria onde está presente o maior nível de complexidade no Universo vísivel. É este dispositivo que me permite conceptualizar o sofrimento dos outros e harmonizar o bem estar de outros indivíduos com o meu bem estar, e os seus interesses (naturais ou declarados) com os meus.



O bem-estar animal é, também, humanismo

Será que o humanismo nos confere obrigações apenas para com os seres humanos? Certamente que este é o foco do humanismo, mas deveremos negar que os restantes animais sejam dignos de direitos que, apesar de serem conferidos por nós, lhes assistem à luz do nosso conceito de bem e mal?

Já estabelecemos que o sofrimento é mau, e que este estado mental é indubitavelmente possível num vasto leque de espécies. Se procuramos estabelecer preceitos éticos universais, não deveríamos tentar eliminar comportamentos que causam sofrimento desnecessário a todas as espécies sencientes?


Ethical values are derived from human need and interest as tested by experience. Humanists ground values in human welfare shaped by human circumstances, interests, and concerns and extended to the global ecosystem and beyond. We are committed to treating each person as having inherent worth and dignity, and to making informed choices in a context of freedom consonant with responsibility.




"Todos deveríamos ser vegetarianos"

Esta é uma conclusão que segue da terceira premissa que apresentei no argumento anterior. Existem vastas alternativas dietéticas à maioria dos produtos animais. Portanto, não existe qualquer tipo de necessidade no consumo de substâncias de origem animal; se o fazemos, é uma questão de agradarmos ao nosso palato, e não me parece que este último seja critério válido na altura de estabelecer juízos morais. Nem me parece que possamos submeter um animal a condições que reconhecemos serem bárbaras por dois motivos:

1. Porque o animal é sensível a tais estímulos.
2. Porque o comportamento bárbaro, seja em que circunstância for, é reprovável.


A primeira premissa defende que os animais devem ser objectos de abordagem moral pelo seu próprio estatuto moral. A segunda premissa defende que os animais, apesar de não serem capazes de agência moral, devem ser objectos de abordagem moral "secundária", ou seja, o fim da abordagem moral é o ser humano e não o próprio animal. De acordo com Kant:

If a man shoots his dog because the animal is no longer capable of service, he does not fail in his duty to the dog, for the dog cannot judge, but his act is inhuman and damages in himself that humanity which it is his duty to show towards mankind. If he is not to stifle his human feelings, he must practice kindness towards animals, for he who is cruel to animals becomes hard also in his dealings with men. (Kant, LE, 240)




A necessidade do sofrimento animal

No entanto, existem casos em que o sofrimento animal é justificável. A experiência científica, nomeadamente a nível biomédico, partindo do pressuposto que esta se orienta pelos seguintes princípios:

1. Que todas as alternativas possíveis sejam consideradas

2. Que os animais sejam utilizados apenas em experiências que prometam avançar o nosso nível de conhecimento científico

3. Que sejam tomados todos os passos necessários tendo em vista minimizar a dor e o stress experienciados pelos animais sujeitos a experimentação.


A experimentação biomédica difere, portanto, do consumo de carne e do divertimento à custa dos animais pelo seu grau de necessidade.


Conclusão

A falta de reciprocidade na relação do ser humano com o restante reino animal não justifica a violência desnecessária. A nossa racionalidade permite-nos conceptualizar o sofrimento, e rotulá-lo como 'mau' com base na nossa experiência subjectiva, que influência a nossa agência moral. São estas características que nos colocam num patamar mais elevado (não biologicamente) e nos conferem um sentido de responsabilidade relativamente ao meio envolvente, especialmente no que concerne outros seres sencientes, e não qualquer tipo de contratualismo. O Ricardo argumenta que a defesa dos animais deve ser feita de acordo com a preocupação que sentimos relativamente ao seu bem-estar: neste ponto, concordamos. No entanto, não deveriam essas preocupações tornarem-se preocupações morais universais, que são passíveis de ser consagradas no Direito?

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domingo, 20 de maio de 2007

Censura na web

A Open Net Initiative propõe-se a analisar, investigar e denunciar os países que censuram conteúdos na internet e os métodos que utilizam. O quadro da censura política é o mesmo que estava à espera de encontrar.
No blog vai sendo actualizada a informação que diz respeito a esta temática, como a explicação e os comentários ao recente veto dos accionistas da Google a uma proposta[pdf] que visava o combate à censura. Isso significava o abandono do investimento feito com a Google China, talvez a filha mais rentável do grupo.

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sábado, 19 de maio de 2007

Ele vai voltar.


(clique para ver a strip completa)

Suponho que Deus ainda esteja a lavar os genitais. O que mais poderia atrasar Deus e o seu sábio julgamento?

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sexta-feira, 18 de maio de 2007

Leitura Recomendada

Uma série de quatro artigos, publicados por João Vasco no Diário Ateísta sobre o paradigmático enviesamento cognitivo conhecido por wishful thinking, ou em português, pensamento veleitário. Quatro artigos que constituem uma autêntica pérola no mar de retórica anticlericalista com que a publicação nos presenteia dia após dia, ad nauseam.

Pensamento Veleitário I - Tomando os desejos por realidades
Descreve os contornos deste enviesamento cognitivo.

Pensamento Veleitário II - A vida eterna
Psicogénese da crença na vida eterna e a sua relação com dispositivos evolucionários.

Pensamento Veleitário III - A mente e o cérebro
Crítica do dualismo cartesiano expresso na religião, isto é, na relação corpo-mente, sendo que o segundo se caracteriza por uma substância imaterial, ou alma. Um bom artigo em defesa da teoria fisicalista da mente.

Pensamento Veleitário IV - As instituições religiosas
O pensamento veleitário face a diversas variáveis e a posição que os crentes mantêm nos dias de hoje, relativamente ás autoridades religiosas e à teologia.


No Que Treta!, de Ludwig Krippahl, encontramos uma série de 5 excelentes artigos críticos do dualismo, e que constituem a melhor literatura sobre filosofia da mente que já encontrei em círculos blogoesféricos nacionais.

Mente e fisiologia, parte 1: o dualismo
Mente e fisiologia, parte 2: Homúnculos
Mente e fisiologia, parte 3: qualia
Mente e fisiologia, parte 4: causas
Mente e fisiologia, parte 5: Deus é amor?

Vale ainda a pena ler este excelente artigo sobre o livre arbítrio e dar uma vista de olhos pela etiqueta filosofia deste blog.

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quinta-feira, 17 de maio de 2007

A ética das touradas

Neste post do Esquerda Republicana, Ricardo Alves critica os defensores dos direitos dos animais, recorrendo a duas proposições que diz serem defendidas pelos mesmos:

  1. Acreditar que os animais não humanos podem ser sujeitos de Direito;
  2. Achar que os outros não têm o direito de se divertir de uma forma que não aprovamos.
A segunda premissa é auto-evidente e falaciosa. Tenta retirar consequências inaceitáveis de um argumento que, para começar, nem sequer corresponde à verdade. Certamente que existem alguns defensores dos direitos animais que acham que os outros não têm o direito de se divertir, da mesma forma que alguns são de esquerda e alguns são de direita. Ou seja, é uma posição que não é central à defesa dos direitos dos animais nem à oposição ás touradas, per se. Certamente que os outros possuem o direito de se divertirem de forma que não aprovamos, a partir do momento que o façam de forma a não infringir os direitos de outros seres (que é o que será discutido no escopo da primeira proposição). Certamente que não considera aceitável que eu pegue numa arma e organize uma competição de tiro ao alvo, tendo como objectivo alvejar outros seres humanos. Este poderá ser uma forma de divertimento aceitável para mim, mas certamente não o será para si, e creio que não o é no entender de qualquer indivíduo que considere o sofrimento (neste caso gratuito, caprichoso e anti-humano) algo intrinsecamente mau, e que este deve ser evitado.


A primeira proposição é válida, e deve ser discutida pelo seu valor dialético, e pela importância que tal questão representa nos nossos dias. Dispensá-la enquanto formulação de indivíduos que seguem correntes anti-humanistas, e que se encontram éticamente desorientados é pouco plausível.

Do reconhecimento à legislação

O que a primeira proposição nos diz é que o estatuto de certos animais, com base em determinados critérios (sendo a senciência um deles) devem ser protegidos pela lei. Mas o facto de um animal ser senciente não lhe garante, imediatamente, acesso a protecção legal. Devemos, portanto, mergulhar nas assumpções estabelecidas quando alguém afirma 'Magoar um animal é mau':

1. Existem animais não-humanos sencientes, logo, possuidores de estados mentais
2. O sofrimento é intrinsecamente mau, e deve ser evitado sempre que possível
3. Os animais, na sua qualidade senciente reconhecem situações nefastas para o seu bem-estar, e demonstram comportamentos adequados, empreendendo estratégias para a sua resolução.


A Lei é, por excelência, a consagração de princípios morais comunitários, tomando um carácter normativo. Creio que a regulação legal com vista a terminar o sofrimento gratuito que é infligido a seres sencientes por hábitos que não se revestem, de forma alguma, de carácter necessário é uma medida sensata. Adicionalmente, os benefícios retirados do sofrimento animal são, em larga medida, superados pelos efeitos nefastos que advêm da quantidade de sofrimento provocada a um ser senciente.

Estatuto moral

Antes de definirmos o estatuto moral de um animal senciente, consideremos os factores que estão na origem do reconhecimento do estatuto moral que cada um de nós atribui a outro ser humano e que torna universalmente condenável a situação que descrevi na crítica à segunda proposição.

A racionalidade ou a capacidade de agir moralmente são normalmente vistos como princípios básicos do estatuto humano, que nos permitem tratar outro ser humano como igual, merecedor de um conjunto de direitos que consideramos inalienáveis. O que dizer de, por exemplo, um indivíduo que nasce com uma deficiência cognitiva grave, que o coloque num patamar básico de senciência? Não creio que a ausência de processos mentais superiores possa justificar o sofrimento do indivíduo, embora este não corresponda aos critérios que utilizamos para agir moralmente relativamente a outro ser humano.

Ursos nas urnas

Estará implicado nas minhas palavras anteriores que um ser humano é, de facto, equivalente a outro animal? Certamente que não. Não creio que seja praticável levar um urso ás urnas, para votar no seu candidato preferido (apesar da elevada afluência de ursos aos locais de voto, sempre que é possível exercer esse direito fundamental). O que defendo é a inclusão do princípio da senciência enquanto critério para agir moralmente.

Conclusão
1. Certos animais não-humanos são sencientes.
2. O sofrimento é intrinsecamente mau, e deve ser evitado.
3. Infligir sofrimento a um ser senciente (de forma claramente superflua e dispensável) é moralmente errado.
4. Logo, magoar um animal é moralmente errado.

Em 3, incluem-se actividades como as touradas.

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Discussões familiares

São frequentes as discussões familiares, em que o poder instituído dos pais se sobrepõe à vontade dos infantes ou adolescentes. Como poderia uma típica discussão familiar beneficiar com a introdução de alguma atitude filosófica?

Sem Filosofia

Filho: Posso ir à festa do João, logo à noite?
Pai: Não. Amanhã é dia de escola.
F: Mas os outros pais deixam os filhos ir!
P: Não vais, ponto final!
F: Isso é injusto!

Com Filosofia

Filho: Posso ir à festa do João, logo à noite?
Pai: Não, amanhã é dia de escola.
F: Mas os outros pais deixam os filhos ir!

P: Existem duas assumpções nas tuas afirmações. A primeira refere-se ao facto de todos os outros pais deixarem ir os filhos à festa, afirmação que, à falta de evidência plausível, é perfeitamente dubitável. Assumes também que visto me encontrar em minoria, a minha posição é incorrecta. No entanto, existem muitos exemplos de pessoas que expressam opiniões correctas, estando em minoria. Certamente não afirmas que uma afirmação é verdadeira pelo simples facto de ser defendida por uma maioria.

F: Certamente que não. Mas porque é que assumes que ir à festa seria uma decisão incorrecta?

P: Porque amanhã tens escola.

F: Assumes que ao deitar-me tarde, o meu rendimento escolar é afectado. Nego que tal seja verdade, mas assumiremos a premissa para bem da discussão. Existe, no entanto, outra assumpção: assumes que o facto de eu me encontrar um pouco cansada no dia seguinte não é compensado pelas vantagens que podem ser retiradas desta saída nocturna: nomeadamente, a melhoria da minha auto-estima, desenvolvimento das minhas capacidades sociais e aquisição de experiência de vida. Disputo a importância absoluta que colocas na educação e conhecimento, afirmando que essas são apenas duas virtudes entre muitas outras, e são igualmente importantes para o meu desenvolvimento.

P: Tal poderá ser verdade, mas não mostra que as virtudes da auto-estima e capacidades sociais deveriam, neste caso específico, sobrepôr-se à educação. Se, como afirmas, a educação e o conhecimento são apenas virtudes entre tantas outras, então a escolha entre elas é apenas uma questão de julgamento. Certamente concordas que eu sou mais velho e mais sábio que tu, e logo, me encontro em melhor posição para proceder a tal julgamento. Concluo, portanto, que tenho o direito - e como teu pai, o dever - de utilizar esse julgamento no melhor dos teus interesses, que neste caso é não te deixar ir à festa.

F: Mas porquê?

P: Não vais, ponto final

F: Isso é injusto!

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40.000 blowjobs

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Deus está morto

Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje!

Nietzsche, Friedrich in A Gaia Ciência, §125.
Numa das passagens mais famosas da filosofia ocidental, o Louco (personagem de Nietzsche) declara que Deus morreu.

Deus Morreu, e com ele, os valores absolutos

O Louco corre pela praça, anunciando a plenos pulmões que Deus morreu. As pessoas observam, curiosas, ao constatarem que um qualquer louco, empunhando uma lanterna em pleno dia (reminescências de Diógenes) anuncia a morte de Deus. Frustrado, esmaga a sua lanterna contra o chão e lamenta ter chegado cedo demais.

O que tenta Nietzsche veicular, ao colocar tais palavras na boca do Louco? A morte de Deus, ou seja, a sua decadência física? Certamente que não. Nietzsche pretende comunicar-nos que o conceito de Deus morreu (fazendo questão de frisar que fomos nós que o matámos), e que este já não serve enquanto fundamento moral para guiar a nossa acção.

O que resta ao indivíduo que, no decorrer da sua vida, fundamentou a sua acção na crença da existência de Deus? Ao quebrar este conceito basilar, não existe nada que possa ficar na mão do crente: apenas o vazio. Deixam de existir valores morais objectivos e absolutos.

A ameaça do nihilismo

Puxámos o tapete ao crente. O local que reservámos ao sistema de crenças, nomeadamente, a Deus, encontra-se vazio e não pode ser preenchido. No entanto, muitas pessoas insistem em manter um cadáver num trono, animando-o através de terapia electroconvulsiva. Mas quando os processos de decomposição se tornarem aparentes pela sua imagem grotesca e cheiro repulsivo, as pessoas não poderão negar que esta morte ocorreu. O desespero tomará conta delas, e que na ausência de leis morais objectivas, a vontade humana dita a lei: tudo é permitido. O nihilismo tomaria conta de cada indivíduo, e assim da sociedade.

Engenharia conceptual: a reavaliação dos valores

Nietzsche delineou um projecto filosófico ambicioso: reavaliar os valores tradicionais. Para Nietzsche, o nihilismo segue do facto de o Cristianismo ser idealista, e tal como em qualquer sistema idealista, não existir uma fundação sólida sobre a qual edificar uma estrutura moral sólida.

Oceanos, telas e superhomens

Com Deus enterrado e fora do caminho, é possível explorar caminhos que antes seriam impensáveis. O Ser Humano possui agora espaço e possibilidade de se desenvolver de acordo com o que o seu potencial permite, redefinindo os seus objectivos de acordo com este mundo, ao invés de agir com vista a um mundo sobrenatural. A morte de Deus torna-se, portanto, uma espécie de tabula rasa, sobre a qual poderemos exercer a nossa liberdade criativa sem os condicionamentos do passado.

Nietzsche recorre à metáfora do mar aberto, que pode ser simultaneamente assustador e belo. As pessoas conseguirão, eventualmente, preencher a tabula rasa com novos valores, fruto da sua nova liberdade criativa, e alcançarão assim um novo estádio da existência humana. Ao derrotarem o seu próprio nihilismo, surgirá o Übermensch.

"God is dead. Let us not understand by this that he does not exist or even that he no longer exists. He is dead. He spoke to us and is silent. We no longer have anything but his cadaver. Perhaps he slipped out of the world, somewhere else like the soul of a dead man. Perhaps he was only a dream ... God is dead."
Jean-Paul Sartre



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quarta-feira, 16 de maio de 2007

Defender a propriedade privada...nos Estados Unidos

"a empresa Amaral Auto Sales, de Harrison, Nova Jersey, vai fechar as portas vítima de expropriação governamental por estar integrada numa área destinada a um plano de desenvolvimento económico."

Passo a explicar. No dia 23 de Junho de 2005, o Supremo Tribunal do Connecticut decidiu a favor de um plano de desenvolvimento apresentado ao poder local, que dependia de terras pertencentes a alguém que não estava interessado em abdicar delas. Na 5ª emenda, a expropriação é possível mas está restrita a qualquer coisa a que chamam de "public use", e à devida compensação do expropriado. Assim se pode ler: "nor shall private property be taken for public use without just compensation".
O "Public use" neste caso era uma oferta de 1000 postos de trabalho e (agora a parte interessante) um aumento da receita fiscal. Por outras palavras, ou a propriedade privada engorda o Estado ou deixa de poder ser propriedade privada.
A luta de Manny Amaral contra a decisão do Supremo Tribunal de New Jersey pode ser vista aqui.

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terça-feira, 15 de maio de 2007

Crimes de Honra e substratos culturais

O Islão e os crimes de honra

Os crimes de honra são frequentemente justificados (tanto por parte de quem os comete como por parte dos opositores do Islão) com recurso ao próprio Islão. Tal não se poderia encontrar mais longe da verdade: é possível encontrar a oposição manifesta dos cânones islâmicos, tanto no Al-Corão como na produção intelectual de vários académicos islâmicos, ao longo da história.

A premissa "O Islão consagra ou permite implicitamente os crimes de honra" é, portanto, falsa. A sua utilização pelos proponentes dos crimes de honra ou pelos detractores do Islão é inválida.

Substrato Cultural

As comunidades que no decurso da história se convertaram ao Islão não existiam no vazio cultural: tal é verdade para a Arabia, berço da religião e matriz cultural mais influente, como para a Indonésia, cuja influência islâmica tem raízes muito mais recentes. Possuíam culturas estruturadas, cujos valores diferiam em vários pontos com os que o Islão apresenta. Os crimes de honra são, portanto, um legado das sociedades pré-islâmica.

Existem, no entanto, diferenças entre a interpretação altamente racionalizada dos círculos teológicos, e a interpretação no que concerne a vertente popular da religião. Quando um indivíduo justifica um crime de honra com o Islão, encontra-se convicto da apologia deste em relação ao tipo de crime que cometeu, embora tal não corresponda à realidade.

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Violência selectiva

Du´a Khalil Aswad, uma jovem curda de 17 anos, foi apedrejada até à morte por ter fugido de casa para se casar com um sunita. Isto para a família, pertencente à religião Yezidi, é uma desonra e a lapidação não é uma resposta de ódio impulsivo, é antes uma prática cultural que no Iraque apenas foi proibida em 2002.

O youtube, à semelhança da cobardia que revelou quando baniu um vídeo com citações do Corão, decidiu banir também os vídeos da brutalidade, que podem ser vistos em alternativa no primeiro link e aqui.

Leio no código de conduta que "Graphic or gratuitous violence is not allowed. If your video shows someone getting hurt, attacked, or humiliated, don't post it.". A julgar pela quantidade de conteúdo violento disponível no youtube, fico com a ideia que este não condena a exibição da violência em si, mas consoante as reacções que essa exposição provoca nos seus interesses, ignorando a importância que a exposição tem na denúncia desta barbárie, que anualmente colhe a vida de milhares de mulheres.

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segunda-feira, 14 de maio de 2007

Introdução (2)













Acresce que a ideia surge no dia em que um lunático, sem amor à vida, decide tentar incendiar o retrato de Mao Tse-Tung na Praça Tiananmen. Não me arrogo da moralidade para julgar o suicídio, mas sinto-me no dever de elevar a dissidência, o método chinês para a salvação.
Cá em Portugal eles bem tentam saltar lá do alto, se soubessem como na China é fácil..

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Introdução

O SOS Acriticismo é um projecto pensado por indivíduos provenientes de quadrantes intelectuais distintos, que partilham um objectivo comum: o combate ao acriticismo paradigmático que se pode constatar, usando como ferramentas o debate informado e claro, sobre diversas temáticas onde pensemos que possa existir uma palavra a dizer, debruçando-nos sobre as temáticas intemporais, assim como sobre as problemáticas que marcam a actualidade.

Defendemos que a ignorância e o estado de acriticismo generalizado devem ser combatidos através da informação e do debate esclarecido, recorrendo a argumentos plausíveis obtidos pela reflexão radical e eliminação de preconceitos parasitários da razão.




Monty Python - Argument Clinic

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